segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Capítulo 4 - Duas Testemunhas

Duas testemunhas espirituais assistiam àquela cena repleta de alegria, suavidade e amor. Com vestes diáfanas e luminescentes, Angélica acompanhava o despertar de Constância, de quem havia cuidado carinhosamente. Sorrindo, ao constatar finalmente a recuperação de sua protegida, comentou com Maurício:

- Pode voltar agora à colônia. Ela ficará bem.


O belo rapaz, que mais lembrava a figura de um anjo, tão insistentemente retratado por artistas de todos os tempos, fitou Angélica com ternura e perguntou:


- Tem certeza?


- Sim, ela conseguiu responder muito bem ao nosso tratamento. Seu corpo está em recuperação e o quadro é promissor.


Fazendo pequena pausa, ela prosseguiu, com suave entonação na voz:


- Você ajudou muito, agradeço mais uma vez.


- Não me agradeça. Devemos tudo a Jesus.


- Sim, eu sei. Agora é importante que você retorne à colônia, levando a Ernesto as boas notícias. Pelo empenho com que tem acompanhado o processo de expansão do Evangelho de Jesus sobre a Terra e pelo seu envolvimento em todos os detalhes, ele gostará de saber que conseguimos impedir a partida de Constância antes do previsto.


- Vou agora mesmo. Você me parece cansada. Vai demorar-se muito ainda aqui?


- Ficarei até que a situação se acalme.


- Mas parece agravar-se cada vez mais.


- Você sabe o porquê.


Ambos emudeceram por longo tempo. Maurício, por fim, comentou:


- É... Não podemos desanimar.


- De modo algum; vamos perseverar. O Cristianismo haverá de triunfar sobre a Terra. Por mais que haja resistência de todos os lados, a verdade que Jesus veio trazer à humanidade prevalecerá!


- Por quanto tempo ainda negaremos e deturparemos seus ensinamentos? 


Por que o homem não compreende o que o Mestre veio ensinar?

- Porque somos ainda crianças, espiritualmente falando. Temos muito a aprender, e enxergamos tudo com nossa limitada compreensão da realidade.


- E por que alguns conseguem e outros não? 


- É por causa da humildade e da fé. Alguns já conseguem ser humildes o suficiente para intuir que são limitados demais, e não podem confiar nas próprias interpretações; precisam buscar a verdade. E mais do que isso: estão dispostos a fazer o esforço necessário para trilhar o caminho da iluminação espiritual, da regeneração de si mesmos. Estão dispostos a abrir mão dos prazeres e ilusões passageiros, para dedicar seus esforços àquilo que é essencial e perene.

- Por quanto tempo ainda os cristãos sofrerão tamanha perseguição? Não deveria ser assim, não é mesmo?


- Quem somos nós para tirar esse tipo de conclusão? No entanto, meu mais profundo desejo é que os homens despertem do sono da ignorância em que ainda estão imersos. Mas agora é melhor que você vá. Leve notícias e peça novas orientações. 


Preciso saber em que poderei ajudar, no caso de as suspeitas de Constância estarem certas. As circunstâncias se precipitam cada vez mais e estou receosa pelas decisões que Constantino tem tomado; ele vem colaborando com os nossos objetivos, como se propôs, mas sinto que pouco a pouco distancia-se, na essência, daquilo que deveria fazer.

- Mas ainda age em nosso favor.


- Aparentemente. Entretanto, sinto que suas motivações estão se desvirtuando.


- Se estiver certa, ele poderá perder-se a qualquer momento.


- Esse é o meu receio. Preciso da ajuda de nossos orientadores do Mais Alto.


Sem demora, ambos se despediram e Mauricio partiu em direção a uma colônia espiritual situada sobre a região da Europa central. Não teve dificuldade de ultrapassar a grande diferença de vibrações entre os planos material e espiritual, e logo cruzava enorme portão que se abria para uma região espiritual de serena suavidade e intensa atividade do bem. A atmosfera se fez mais leve, doce fragrância de flores as mais diversas invadia o ar; pássaros e borboletas coloridas cruzavam o céu. Maurício deteve-se diante da beleza da colônia e respirou fundo, haurindo com satisfação as energias sutis que vibravam no ambiente. 


Entrou. Logo estava em companhia de Ernesto, que o aguardava:

- Maurício, é bom vê-lo. Que notícias nos traz dos irmãos encarnados?


Acomodando-se ao lado do orientador, Maurício suspirou:


- A situação continua difícil.


- Tenho percebido grande adensamento energético sobre o planeta.


- Sim, como se nuvens negras e pesadas se acumulassem sobre a Crosta. Apesar disso, trago-lhe boas notícias. Conseguimos contribuir efetivamente para a melhora de Constância. Ela acaba de despertar e se recupera muito bem.


- Excelente trabalho, Maurício. Ela é nossa grande aliada no sentido de manter Constantino nos trilhos de sua programação. Ela é fundamental. O rapaz prosseguiu, interessado:


- Angélica continua dedicada à sua recuperação.


- Ela tem conseguido maior influência sobre Constantino?


- Tem trabalhado muito, mas também está receosa de que ele se desvie de sua tarefa.


- Honestamente, Maurício, eu também estou, e muito.


O jovem fitou Ernesto sem dizer palavra. Também estava apreensivo. Depois de breve pausa, indagou:


- Achei que talvez Angélica exagerasse... Então ele realmente está se desviando da tarefa?


- Pouco a pouco, quase imperceptivelmente, vem se distanciando de nossa programação.


- E o que podemos fazer?


- Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance, mas a decisão é dele.


Sério, Maurício indagou:


- Conhece-o há muito tempo?


- Sim, desde Capela. Surpreso, Maurício comentou:


- É... faz tempo mesmo. Também vieram de lá?


- E chegamos antes de você, um pouco antes.


- A grande maioria já retornou....


- Contudo, há ainda muitos por aqui. Estamos tentando, não é mesmo?


- Sinto saudade de meu verdadeiro lar. Desejo retornar assim que for possível; mas como fazer isso, deixando para trás tantas pessoas queridas? 


Não posso, por enquanto.

- Sei bem o que sente. É o caso de Ferdinando, ora vivendo na Terra como Constantino.


- Ele já tem preparo suficiente para realizar a tarefa que se propôs.


- Certamente. Entretanto, não importa quão preparados estejamos, sempre poderemos falhar; basta uma distração, um enveredar pelo caminho do orgulho e nos deixar dominar por ele, e pronto. O retorno fica muito difícil.


Calaram-se novamente. Ernesto ergueu-se, caminhou até uma grande janela que dava para florido jardim e comentou, por fim:


- Continuemos orando e confiando. Deus jamais permite que se coloque sobre qualquer de seus filhos peso maior do que está preparado para suportar. Confiemos que Constantino será capaz de reencontrar-se e ser vitorioso, afinal.

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