Capítulo 6 - Enquanto Caminha
Enquanto caminhava pela colônia, em um dos grandes jardins floridos, Angélica cumprimentava os amigos e colegas com quem compartilhara trabalho e aprendizado. Ela também viera de Capela e alcançara, através de esforço e dedicação em diversas encarnações penosas, significativo progresso. Estava pronta para retornar à constelação do Cocheiro, mas embora sua alma suspirasse por voltar ao lar, seu coração se enchera de compaixão pelos habitantes da Terra e seu difícil caminho de evolução. Queria ajudar e, como Ernesto, resolvera permanecer para isso.
Finalmente chegou a uma grande construção, onde Ernesto a aguardava. Assim que a viu, encheu-se de alegria. E abraçando-a exultou:
- É bom vê-la outra vez, Angélica.
Retribuindo-lhe o carinho, ela o abraçou ternamente e disse:
- Também estava com saudade, mas achei melhor permanecer junto a Constância.
Deixando visível sua preocupação, Ernesto comentou:
- A situação está piorando muito, não é?
- Muito. Constância já não consegue acesso ao irmão. Constantino distanciou-se emocionalmente de toda a família. Inclusive dos próprios filhos.
Tem se enclausurado em si mesmo cada vez mais, e perigosamente acredita naquilo que falam sobre ele.
Entristecido, Ernesto lamentou:
- O poder o está cegando totalmente.
- Eu temo que sim.
- O poder que ele deveria utilizar para fortalecer o bem e a verdade, para fazer expandir-se sobre a Terra a luz do Evangelho, está usando para satisfazer as próprias paixões.
- E isso mesmo. Infelizmente, creio que ele não conseguirá! Ernesto calou-se e meditou por longo tempo. Depois, perguntou:
- E como está Constância?
- Apesar de fisicamente recuperada, sua alma sofre muito, pois sabe que ambos, Licínio e Constantino, se desviaram de suas tarefas, e estão prestes a se confrontar.
- E eram dois imperadores justamente para se ajudarem mutuamente em tarefa de tamanha responsabilidade.
- Não resistiram aos apelos da personalidade, do ego. Ao egocentrismo e ao endeusamento de si mesmos. Suspirando fundo, Angélica emendou:
- Nossa irmã sofre profundamente, pois intui a dor e o sofrimento que os aguarda após deixarem a Terra.
A jovem fez uma pausa, depois continuou:
- O que poderemos fazer, Ernesto? Uma programação reencarnatória tão preparada, longamente planejada, agora prestes a se perder...
- E... O livre-arbítrio. Não podemos impedir que Constantino faça suas escolhas. Ele tem esse direito. E aqueles que o seguem também. O que podemos fazer, agora, é rogar ao Pai Celeste nos socorra e nos oriente.
- Eles estão prestes a se enfrentar. Talvez o façam agora, enquanto nos falamos. Constantino alcançou as planícies de Adrianópolis com mais de 120 mil homens; Licínio está acampado com seus homens nas planícies, já mais para o lado de Bizâncio. A guerra é inevitável e...
Angélica não pôde continuar. A dor tomou conta de seu coração e pesadas lágrimas desciam pela sua face. Ernesto buscou consolá-la e disse, tocando suas mãos:
- Sei que é difícil...
- Quantas vidas perdidas... Quanto sofrimento inútil... Quanta dor se projetando para o futuro dessas almas...
- Sim, minha irmã, infelizmente. Limpando as lágrimas, ela indagou:
- Por quê? Por que ainda é tão difícil para os homens compreender...
- Porque a verdade incomoda os homens, Angélica.
- Por quê?
Ernesto pensou por alguns momentos, depois, envolto em safírica luz, disse:
- Os homens tentam de todas as maneiras fugir de sua difícil, angustiosa situação espiritual.
- Por que não procuram sair da situação, para serem mais felizes? A verdade nos liberta, nos faz donos de nossos destinos, nos aproxima de Deus e nos torna seres mais felizes.
- Não sem antes nos obrigar e enxergar nossa real condição espiritual. Jesus trouxe para os homens a consciência de nossa real condição espiritual, ar-rancando-nos das ilusões em que nos apoiávamos, acreditando-nos possuidores de uma superioridade que não existe.
Fez curta pausa. Angélica o escutava atenta. Ele continuou:
- Conscientes de nossa real situação, temos de tomar uma decisão, e arcar com as conseqüências advindas dela. Podemos optar pela iluminação espiritual, conscientes de que ela é árdua, difícil e demorada, mas o único caminho para nossa real felicidade. Ou então, abafar a consciência e escolher a fantasia, a mentira, pois ela nos dá maior prazer, maior satisfação e não nos obriga a empreender os esforços de resignação, humildade e desapego às ilusões, principalmente sobre nós mesmos.
Angélica balançou a cabeça em sinal afirmativo e disse:
- Tem razão, meu sábio amigo. A verdade nos liberta, mas depende de nosso esforço e coragem para nos vermos como realmente somos.
- Exatamente. Por isso matamos Jesus impiedosamente. Calando o Messias, tentamos fazer silenciar a própria consciência que gritava dentro de nós.
Angélica ia fazer uma pergunta, quando Ernesto sugeriu:
- Oremos a Deus. Ele haverá de nos orientar. E acima de tudo, tenhamos paciência, sabendo que nós mesmos viemos de longa data fugindo destas verdades...
Angélica sorriu ao repetir:
- Paciência...
E Ernesto finalizou:
- E muita perseverança. O bem triunfará, isso é inevitável. A verdade será vitoriosa.
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
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