segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Capítulo 6 - Enquanto Caminha

Enquanto caminhava pela colônia, em um dos grandes jardins floridos, Angélica cumprimentava os amigos e colegas com quem compartilhara trabalho e aprendizado. Ela também viera de Capela e alcançara, através de esforço e dedicação em diversas encarnações penosas, significativo progresso. Estava pronta para retornar à constelação do Cocheiro, mas embora sua alma suspirasse por voltar ao lar, seu coração se enchera de compaixão pelos habitantes da Terra e seu difícil caminho de evolução. Queria ajudar e, como Ernesto, resolvera permanecer para isso.

Finalmente chegou a uma grande construção, onde Ernesto a aguardava. Assim que a viu, encheu-se de alegria. E abraçando-a exultou:


- É bom vê-la outra vez, Angélica.


Retribuindo-lhe o carinho, ela o abraçou ternamente e disse:


- Também estava com saudade, mas achei melhor permanecer junto a Constância.


Deixando visível sua preocupação, Ernesto comentou:


- A situação está piorando muito, não é?


- Muito. Constância já não consegue acesso ao irmão. Constantino distanciou-se emocionalmente de toda a família. Inclusive dos próprios filhos. 


Tem se enclausurado em si mesmo cada vez mais, e perigosamente acredita naquilo que falam sobre ele.

Entristecido, Ernesto lamentou:


- O poder o está cegando totalmente.


- Eu temo que sim.


- O poder que ele deveria utilizar para fortalecer o bem e a verdade, para fazer expandir-se sobre a Terra a luz do Evangelho, está usando para satisfazer as próprias paixões.


- E isso mesmo. Infelizmente, creio que ele não conseguirá! Ernesto calou-se e meditou por longo tempo. Depois, perguntou:


- E como está Constância?


- Apesar de fisicamente recuperada, sua alma sofre muito, pois sabe que ambos, Licínio e Constantino, se desviaram de suas tarefas, e estão prestes a se confrontar.


- E eram dois imperadores justamente para se ajudarem mutuamente em tarefa de tamanha responsabilidade.


- Não resistiram aos apelos da personalidade, do ego. Ao egocentrismo e ao endeusamento de si mesmos. Suspirando fundo, Angélica emendou:


- Nossa irmã sofre profundamente, pois intui a dor e o sofrimento que os aguarda após deixarem a Terra.


A jovem fez uma pausa, depois continuou:


- O que poderemos fazer, Ernesto? Uma programação reencarnatória tão preparada, longamente planejada, agora prestes a se perder...


- E... O livre-arbítrio. Não podemos impedir que Constantino faça suas escolhas. Ele tem esse direito. E aqueles que o seguem também. O que podemos fazer, agora, é rogar ao Pai Celeste nos socorra e nos oriente.


- Eles estão prestes a se enfrentar. Talvez o façam agora, enquanto nos falamos. Constantino alcançou as planícies de Adrianópolis com mais de 120 mil homens; Licínio está acampado com seus homens nas planícies, já mais para o lado de Bizâncio. A guerra é inevitável e...


Angélica não pôde continuar. A dor tomou conta de seu coração e pesadas lágrimas desciam pela sua face. Ernesto buscou consolá-la e disse, tocando suas mãos:


- Sei que é difícil...


- Quantas vidas perdidas... Quanto sofrimento inútil... Quanta dor se projetando para o futuro dessas almas...


- Sim, minha irmã, infelizmente. Limpando as lágrimas, ela indagou:


- Por quê? Por que ainda é tão difícil para os homens compreender...


- Porque a verdade incomoda os homens, Angélica.


- Por quê?


Ernesto pensou por alguns momentos, depois, envolto em safírica luz, disse:


- Os homens tentam de todas as maneiras fugir de sua difícil, angustiosa situação espiritual.


- Por que não procuram sair da situação, para serem mais felizes? A verdade nos liberta, nos faz donos de nossos destinos, nos aproxima de Deus e nos torna seres mais felizes.


- Não sem antes nos obrigar e enxergar nossa real condição espiritual. Jesus trouxe para os homens a consciência de nossa real condição espiritual, ar-rancando-nos das ilusões em que nos apoiávamos, acreditando-nos possuidores de uma superioridade que não existe.


Fez curta pausa. Angélica o escutava atenta. Ele continuou:


- Conscientes de nossa real situação, temos de tomar uma decisão, e arcar com as conseqüências advindas dela. Podemos optar pela iluminação espiritual, conscientes de que ela é árdua, difícil e demorada, mas o único caminho para nossa real felicidade. Ou então, abafar a consciência e escolher a fantasia, a mentira, pois ela nos dá maior prazer, maior satisfação e não nos obriga a empreender os esforços de resignação, humildade e desapego às ilusões, principalmente sobre nós mesmos.


Angélica balançou a cabeça em sinal afirmativo e disse:


- Tem razão, meu sábio amigo. A verdade nos liberta, mas depende de nosso esforço e coragem para nos vermos como realmente somos.


- Exatamente. Por isso matamos Jesus impiedosamente. Calando o Messias, tentamos fazer silenciar a própria consciência que gritava dentro de nós.


Angélica ia fazer uma pergunta, quando Ernesto sugeriu:


- Oremos a Deus. Ele haverá de nos orientar. E acima de tudo, tenhamos paciência, sabendo que nós mesmos viemos de longa data fugindo destas verdades...


Angélica sorriu ao repetir:


- Paciência...


E Ernesto finalizou:


- E muita perseverança. O bem triunfará, isso é inevitável. A verdade será vitoriosa.

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